União dos Palmares — A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL) solicitou investigação à Procuradoria-Geral do Trabalho do suposto caso do idoso Francisco Bezerra da Silva, de 72 anos, mantido em condições análogas à escravidão no assentamento Santa Quitéria, na zona rural de União dos Palmares.
Conforme denúncia enviada ao Disque Direitos Humanos, o Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o idoso era mantido assim desde 2015, e tinha sido “contratado” pelo acusado. O acordo estipulava que ele deveria receber o valor de R$ 300 mensais, porém nunca foi pago pelo serviço.
Em nota, a diretoria da 5ª Subseção da OAB/AL em União dos Palmares, disse que o caso está tendo ‘o devido acompanhamento pela Comissão’, ao mesmo tempo em que pede ‘a mais rápida elucidação do caso a fim de que não se cometam injustiças’.
“Não é admissível que em pleno século XXI e ainda mais na terra-berço da resistência e da liberdade tenhamos que assistir inertes a um retalho do flagelo que foi, sem dúvidas, a maior tragédia da humanidade, a escravidão”, destacou o vice-presidente da 5ª Subseção da OAB/AL em União dos Palmares, Alexandre Lima.
Confira na íntegra:
A diretoria da 5ª Subseção da OAB/AL em União dos Palmares vem esclarecer à sociedade palmarina, em vista das notícias veiculadas desde o dia 22 do corrente mês a respeito do resgate de um homem que supostamente vivia mantido em condições análogas à de escravo na zona rural em nossa cidade, que o caso está tendo o devido acompanhamento pela Comissão Especial do Idoso instalada no âmbito da Seccional em Maceió, presidida pelo Dr. Gilberto Irineu.
Aproveita a ocasião, ainda, para prestar solidariedade à suposta vítima, bem como exigir das autoridades competentes a mais rápida elucidação do caso a fim de que não se cometam injustiças e, sendo o caso, a exemplar punição de quem eventualmente tenha praticado tão grave de afronta à dignidade de um ser humano. Não é admissível que em pleno século XXI e ainda mais na terra-berço da resistência e da liberdade tenhamos que assistir inertes a um retalho do flagelo que foi, sem dúvidas, a maior tragédia da humanidade, a escravidão.
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Vítima de uma trama
Em reportagem já publicada no BR104, vítima e acusado mostram uma versão diferente do que foi relatado pelo denunciante. À reportagem, o ancião disse que nunca passou fome e que nem tampouco se alimentava de ratos ou lagartixas. “Eu nunca comi rato. Lá eu comia salame, galinha, massa de milho, arroz, açúcar, macarrão”, disse.
Questionado sobre ter sido mantido em cárcere, Francisco disse que sempre foi bem tratado por Ademílson e que tinha um bom relacionamento com os vizinhos, com quem compartilhava o que era plantado por ele próprio no sítio onde morava, localizado no assentamento Santa Quitéria, na zona rural de União dos Palmares.
Preso desde a última quinta-feira (22), Ademílson nega que tenha mantido o idoso como seu funcionário, e explicou que a denúncia partiu de seus ‘inimigos’. O acusado atribuiu o nome de dois ex-associados da associação que preside, que segundo ele, tentam o prejudicar há um certo tempo.
Além de Pedro Viana e Francisco Alves Monteiro Filho, ele também cita Carlos da Umes, que na época assessorava o presidente do órgão, e teria criado um clima de perseguição contra ele. Revelou ainda que no dia anterior à prisão, Pedro e Francisco foram até à 11° Delegacia Regional de União dos Palmares depor contra ele.
“Desde que fui de encontro a eles que criam problemas para mim. Já houve muito tumulto de camburão, de policiais lá no começo, foi em 2017, por culpa deles dois assim que começará a atribuir coisas contra mim”, conclui Ademílson.
O que dizem os citados:
Procurado pelo BR104, Carlos da Umes disse que ‘não há veracidade do fato’, e que o caso ocorreu entre Ademílson e outras pessoas que faziam parte do movimento. Afirmou ainda que na época ‘foi procurado por dois rapazes’ – que não tiveram os nomes revelados. “Não há fundamento. Ele está querendo criar argumento para a situação”, afirmou.
Pedro Viana e Francisco Alves Monteiro Filho, citados por Ademílson da Silva, não foram localizados pela reportagem.