Rodrigo Cunha ‘ataca’ Bolsonaro em defesa dos nordestinos

"Daqueles governadores de Paraíba, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara", disse Bolsonaro a Onyx Lorenzoni

Para Rodrigo Cunha, Bolsonaro foi 'infeliz' ao chamar Nordeste de 'Paraíba' — © Gustavo Lopes/BR104

Para Rodrigo Cunha, Bolsonaro foi 'infeliz' ao chamar Nordeste de 'Paraíba' — © Gustavo Lopes/BR104

Política — Na manhã desta segunda-feira (22), durante entrevista em uma rádio, em União dos Palmares, o senador Rodrigo cunha (PSDB), em resposta a Jair Bolsonaro, disse que ele foi ‘infeliz’ e que a fala, por si só, já foi preconceituosa. Na última sexta-feira (19), durante um café da manhã com jornalistas, o presidente referiu-se aos governadores do Nordeste como “governadores de Paraíba”.

Rodrigo Cunha ressaltou ainda que o termo é utilizado como forma de ‘inferiorizar ou até generalizar’ nordestinos que saem do seu estado de origem para outros estados brasileiros.

“Por si só, o que está escrito já é sim um tipo de preconceito. É bom a gente tentar ilustrar isso, para quem não sabe exatamente o que quis dizer o presidente: Quando um alagoano, por exemplo, está morando em São Paulo, algumas pessoas de maneira, até querendo inferiorizar ou generalizar o alagoano que está lá, chamam ele de ‘Paraíba’. Ou seja, passou uma linha que saiu ali do eixo Rio/São Paulo, dali pra cima…”, disse.

“Não é que a Paraíba vai ser inferior, não é isso, mas é que nós temos a nossa identidade. Então, o presidente foi extremamente infeliz, infeliz demais ao tentar generalizar uma situação, e que o país inteiro sabe o que significa isso. Não é ‘o Paraíba’, mas a expressão em si na forma como foi colocada. Generalizou todos como sendo Paraíba”, acrescentou.

Em sua fala, Cunha lembrou, também, o fato do presidente ter sido pouco votado na região Nordeste. “É cada vez necessário a presença dele no Nordeste brasileiro. Não é porque foi o menos votado, porque perdeu em toda região Nordeste que vai deixar de fora do mapa. Pelo contrário, eu acho que a função dele é justamente tentar reverter isso. até de maneira inteligente, se ele quer continuar no poder. É tentar melhorar onde ele é pior’, afirmou.

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O caso

A fala foi captada por microfones da TV Brasil pouco antes de o presidente conversar com jornalistas, na última sexta-feira (19), sem que ele percebesse. Bolsonaro se preparava para conversar com jornalistas, e aparentemente não sabia que o microfone que usava para que a conversa fosse transmitida pela internet já captava áudio.

“Daqueles governadores de Paraíba, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara”, disse ao ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil. Depois de um trecho incompreensível, Bolsonaro ainda usou a expressão “picaretas”. O caso gerou indignação nos chefes dos Executivos da região.

Em carta enviada ao presidente, os governadores do Nordeste afirmaram terem recebido com “espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional”, e que aguardavam esclarecimentos por parte da presidência.

“Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população”, diz outro trecho da carta.

Bolsonaro volta atrás

Nesse domingo (21), Jair Bolsonaro voltou atrás e disse que não criticou o povo nordestino ao citar “governadores de paraíba” antes de início de café da manhã com correspondentes da imprensa estrangeira.

“‘Daqueles GOVERNADORES… o pior é o do Maranhão’. Foi o que falei reservadamente para um ministro. NENHUMA crítica ao povo nordestino, meus irmãos. Mas o melhor de tudo foi ver um único general, Luiz Rocha Paiva, se aliar ao PCdoB de Flávio Dino, para me chamar de antipatriótico. Sem querer descobrimos um melancia, defensor da Guerrilha do Araguaia, em pleno século XXI”, escreveu o presidente na rede social.