A pandemia da Covid-19, que assusta o país e já fez mais de 550 mil vítimas fatais, tem levado os alagoanos a recorrerem cada vez mais ao consumo de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, de acordo com um levantamento encomendado pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia), com base em dados da consultoria IQVIA.
A pesquisa apontou que as farmácias de Alagoas registraram um aumento de 34% nas vendas desse tipo de medicamento só nos primeiros cinco meses de 2021. No ano passado, o estado também teve um aumento de 20% no mesmo período.
Com base no mesmo levantamento, o Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) apontou um crescimento das vendas – em farmácias de todo o país – de medicamentos que são usados para doenças que afetam o sistema nervoso central. Para esse tipo de medicamento, a pesquisa revelou um aumento de 18,73% nas vendas.
Não é um problema apenas dos alagoanos, o crescimento da venda e do consumo desse tipo de fármaco foi uma tendência em todo o país. O CFF concluiu que só neste ano as farmácias venderam mais de 4,782 milhões de unidades (cápsulas e comprimidos) a mais no primeiro semestre de 2021, em relação ao igual período de 2020.
Para a psicóloga clinica Jessica Batista, que é especialista em avaliação psicológica, esse aumento no consumo de antidepressivos pode estar ligado ao número de famílias enlutadas pela perda de um ente querido, ou ao crescimento da violência doméstica registrado nesse período.
“Diante do momento em que estamos enfrentando, muitas pessoas passaram a fazer o uso de antidepressivos, seja pelo medo, pela ansiedade, pela perca de entes queridos, seja pela depressão e até mesmo pelo número de agressões contra as mulheres nesse momento de pandemia, pois os casais passaram a ficar mais tempo juntos em casa.”
Ela também lembra que a falta de dinheiro em muitos casos acaba sendo gatilho para a depressão, que pode ser ocasionada por uma demissão repentina.
“A crise financeira e o desemprego são fatores que desencadearam também o aumento do consumo de antidepressivos.”
Profissionais da saúde e até crianças que foram repentinamente tiradas da escola, devido a quarentena, também podem ter contribuído para o aumento no uso de antidepressivos, segundo Jessica.
“Alguns profissionais da saúde que continuam a trabalhar sem parar para salvar vidas contra o COVID-19 também adoeceram, precisaram ser afastados do trabalho. Enfatizando também as nossas crianças, que precisaram entrar em quarentena e o isolamento social mudou muito a rotina delas, sem ir para a escola, sem socializar.”