
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisará realizar novos exames de neuroimagem dentro dos próximos três dias para verificar a existência de sangramento ou inchaço na região occipital do crânio, área afetada após ele sofrer uma queda no banheiro.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, este procedimento é considerado padrão em casos de trauma craniano. O boletim médico divulgado pela equipe que o atendeu no Hospital Sírio-Libanês de Brasília indica que o presidente teve um “ferimento corto-contuso” na parte posterior da cabeça, local associado à percepção visual, e levou pontos na região. Agora, ele está sendo monitorado em casa, após a alta hospitalar.
O acidente ocorreu no sábado à noite (19), quando Lula e sua esposa, Rosângela da Silva, a Janja, estavam finalizando os preparativos para uma viagem à Rússia, onde o presidente participaria de uma cúpula do Brics. No entanto, por recomendação médica, a viagem foi cancelada.
Segundo o neurocirurgião Luiz Severo, especialista em dor, o presidente sofreu um traumatismo cranioencefálico leve.
“Ele não perdeu a consciência e estava lúcido quando chegou ao hospital”, explicou.
Severo também mencionou que o termo “ferimento corto-contuso” indica uma lesão que pode incluir pequenos sangramentos no cérebro, mas que o quadro precisa ser acompanhado para evitar o risco de aumento desse sangramento.
O risco de agravamento é maior em idosos, como destacou Severo, devido à fragilidade dos tecidos e vasos sanguíneos. Lula, aos 78 anos, se enquadra nesse perfil. Além disso, pessoas que fazem uso de medicamentos anticoagulantes, como o AAS, têm maior propensão a sangramentos, embora não haja confirmação sobre o uso desses remédios pelo presidente.
Nos primeiros três dias após o acidente, a vigilância é essencial para evitar complicações, como edema cerebral. Durante esse período, o recomendado é repouso e monitoramento constante, conforme explica o neurologista.
O boletim médico também informou que Lula foi orientado a evitar voos de longa duração. A viagem para a Rússia, que duraria cerca de 17 horas, poderia agravar o risco de aumento da pressão intracraniana, tornando o deslocamento arriscado no momento.
Quedas em idosos são comuns e perigosas
A geriatra Maisa Kairalla, integrante da Câmara Técnica de Geriatria do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), ressalta que acidentes como o ocorrido com o presidente são frequentes em pessoas mais velhas. Segundo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, 40% dos indivíduos com mais de 80 anos sofrem quedas anualmente.
Uma das principais preocupações nessas situações é o risco de hematoma subdural, que acontece quando o sangue se acumula entre o crânio e o cérebro devido à ruptura de vasos sanguíneos. “Em alguns casos, o sangramento não ocorre de imediato, mas pode se desenvolver semanas após o trauma”, alerta Kairalla.
Ela também mencionou o perigo de fratura no quadril, outra consequência comum de quedas entre idosos. “Se Lula não tivesse passado pela cirurgia de prótese no quadril, o risco poderia ter sido ainda maior”, afirmou, destacando a importância de medidas preventivas para evitar acidentes domésticos, especialmente em áreas como o banheiro.