Um estudo divulgado nesta quinta-feira (7) pela Rede de Observatórios da Segurança revela que uma pessoa negra é morta a cada quatro horas em intervenções policiais em nove estados brasileiros. A pesquisa mostra um padrão alarmante: negros representam quase 90% das vítimas fatais dessas intervenções, evidenciando o racismo estrutural nas ações de segurança pública.
Em 2023, foram registradas 4.025 mortes decorrentes de intervenção policial, sendo que 2.782 das vítimas eram negras, o equivalente a 87,8% dos casos onde a raça foi registrada. Em 856 ocorrências, não houve informação sobre a raça da vítima, sugerindo uma possível subnotificação.
A Bahia lidera o ranking de letalidade policial, com 1.702 mortes em 2023, das quais 1.321 foram de negros (94,6%). Este é o segundo ano consecutivo em que o estado ocupa essa posição. Em seguida, o Rio de Janeiro registrou 871 mortes, sendo 690 de pessoas negras.
Ranking de Mortes por Intervenção Policial nos Estados:
1. Bahia: 1.702 mortes (1.321 vítimas negras)
2. Rio de Janeiro: 871 mortes (690 vítimas negras)
3. Pará: 530 mortes (232 vítimas negras)
4. São Paulo: 510 mortes (321 vítimas negras)
5. Ceará: 147 mortes (47 vítimas negras)
6. Pernambuco: 117 mortes (110 vítimas negras)
7. Maranhão: 62 mortes (16 vítimas negras)
8. Amazonas: 59 mortes (25 vítimas negras)
9. Piauí: 27 mortes (20 vítimas negras)
O estudo, intitulado “Pele Alvo: mortes que revelam um padrão”, menciona que 243 das vítimas eram crianças e adolescentes. Segundo o coordenador do levantamento, Pablo Nunes, esses números refletem o racismo estrutural presente nas instituições de segurança pública. Ele ressalta que, em estados com políticas de confronto mais agressivas, como São Paulo, há um impacto direto nas taxas de letalidade.
De acordo com Nunes, a letalidade policial não apenas atinge a população negra, mas também afeta policiais, muitos dos quais também são negros e vivem em áreas periféricas. O especialista aponta que o contexto político influencia as taxas de letalidade, e que, em estados com políticas de segurança pública centradas no confronto, há tendência de aumento nos números de mortes.