Mesmo com as campanhas de conscientização, os famosos trotes continuam sendo praticados, prejudicando os serviços de urgência e emergência de Alagoas. O mais recente foi registrado na sexta-feira (06/11), e dava conta de um acidente na BR-104, entre as cidades de Branquinha e União dos Palmares.
Um homem teria ligado para o 192 do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), relatando que ele e um amigo tinham sofrido uma queda de moto e essa segunda vítima estaria desacordada. Embora as ligações passem por triagem, a versão do impostor convenceu as equipes, que se deslocaram até o local apontado.
Pela gravidade da situação, a regulação médica decidiu liberar o helicóptero do Serviço Aeromédico e a Unidade de Suporte Básico (USB) da Base Descentralizada de Murici, além de acionar a Polícia Rodoviária Federal (PRF), pela suposta ocorrência ser em uma rodovia federal.
Segundo Mayara Tavares, enfermeira e coordenadora da Base Descentralizada de Murici, a equipe da USB chegou até o local da ocorrência e constatou de que não havia nenhum acidente e que havia sido um trote. Acrescentou que não demorou 10 minutos para chegar no suposto local do acidente.
Mayara contou ainda que ao chegar no local, não havia sinal que pudesse sugerir que a queda de moto realmente tinha acontecido. “Procuramos e não vimos o veículo, não tinha sangue na rodovia e ainda percorremos uns 20 km, até a cidade de União do Palmares, procurando as vítimas e não achamos nada”.
“O sentimento que fica é de revolta e tristeza, porque podemos deixar de atender alguém que realmente precisa do serviço, além de arriscarmos nossas vidas a cada ocorrência”, relatou a enfermeira.
A PRF também percorreu a BR-104, no trecho indicado pelo solicitante, e não achou nenhum sinal do acidente. Os policiais foram até um hospital local de União dos Palmares e nenhuma vítima de acidente de motocicleta tinha dado entrada na unidade de saúde.
Com a dificuldade em achar as vítimas da provável ocorrência, a Central de Regulação de Maceió, entrou em contato com o solicitante, mas o número telefônico estava desligado. De acordo com Luiz Antônio Mansur, médico regulador do Samu Alagoas, devido ao tipo da ocorrência, foi necessário fazer a liberação rápida das equipes para poder salvar aquelas supostas vítimas.
Há 17 anos no Samu Alagoas, o médico disse que essa foi a primeira vez que liberou viaturas para uma ocorrência falsa. “Quando conversei com o solicitante, não notei nada de anormal no tom de voz, ou qualquer outro sinal que demonstrasse que aquela ligação fosse um trote”, contou.
“O rapaz relatou que a vítima mais grave estava inconsciente e, por ser um acidente em uma rodovia, liberamos o helicóptero, que é uma UTI aérea, e a ambulância de Murici, para chegarmos mais rápido, avaliarmos o paciente e tentarmos estabilizar a vítima”, destacou Luiz Antônio Mansur.
“É triste saber que as pessoas continuam insistindo em passar trotes para o Samu, que é um serviço essencial, e que lida diretamente com vidas. Caso alguém não tenha um atendimento rápido, pela falta das viaturas que estão se deslocando para um trote, pode significar a morte desse paciente”, afirmou o médico.
Trotes em 2020
As Centrais de Regulação de Maceió e de Arapiraca do Samu Alagoas receberam, entre os meses de janeiro e outubro, 324.266 ligações no número 192. Desse total, os trotes representam 109.047 chamadas, ou seja, 33,62% das ligações.
O artigo 266 do Código Penal Brasileiro classifica como crime passar trote para serviços de emergência, e a pessoa que faz esse tipo de ligação pode pegar de um a seis meses de detenção. O infrator também pode ser condenado a pagar uma multa, e as penalidades podem ser duplicadas em situações de calamidade pública.