Inep divulga um novo gabarito do Enem após acusações de racismo

A divulgação do gabarito oficial foi marcada por questões anuladas devido às respostas inconsistentes e correções das mesmas após acusações de racismo nas redes sociais.

O Inep divulgou um novo gabarito.

O Inep divulgou um novo gabarito.

O gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi divulgado, nesta quarta feira (27), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mas a sua divulgação foi marcada por questões anuladas devido às respostas inconsistentes e correções das mesmas após acusações de racismo nas redes sociais. Com isso, um novo gabarito foi divulgado nesta quinta-feira (28).

A primeira questão anulada fez parte da prova de Inglês e apresentou um trecho da obra “Americanah”, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichi, onde duas mulheres negras conversam em um salão de cabeleireiro, e a profissional recomenda que a cliente – Ifelemu – alise os fios de seu cabelo, para que eles fiquem mais fáceis de pentear.

Mas a cliente recusa, e diz que gosta do seu cabelo “como Deus o fez”, e ainda acrescenta que uma hidratação correta pode facilitar a penteação: “Não é difícil pentear se você hidratar corretamente “, disse ela [Ifelemu], assumindo o tom persuasivo que ela usava sempre que tentava convencer outras mulheres negras sobre os méritos de usar seu cabelo natural” – conforme a tradução para o Português.

Após a leitura do trecho, o Enem questiona os candidatos sobre o quê os argumentos da cliente revelam, após ela ter negado o alisamento de seu cabelo. A resposta correta deveria ser a C: “revelam uma atitude de resistência”. Mas o gabarito oficial apontou, inicialmente, a alternativa D, que dizia “demostram uma atitude de imaturidade”. Depois das acusações de racismo, o Inep corrigiu a questão dos cadernos, porém o erro ainda permaneceu em alguns deles.

O Inep considerou, inicialmente, a alternativa D como correta: “imaturidade”. — © Reprodução

Sobre isso, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), por exemplo, escreveu no Twitter que: “Não alisar o cabelo não é imaturidade e sim RESISTÊNCIA ao padrão de beleza e a cultura de embranquecimento. A questão precisa ser anulada, porque a resposta indicada pelo MEC é errada e preconceituosa.” Essa foi apenas uma das indignações dos internautas nas redes sociais.

Outra questão anulada e apontada como racista fez parte da prova de Linguagens, onde um texto menciona que “ao digitar nomes comuns entre negros dos EUA, a chance de os anúncios automáticos oferecerem checagem de antecedentes criminais pode aumentar 25%”.

O Inep desconsiderou o preconceito presente no texto. — © Reprodução

A questão apresentava a seguinte pergunta: “O texto permite o desnudamento da sociedade ao relacionar as tecnologias de informação e comunicação com o(a)…” A resposta, segundo as resoluções dos estudantes, deveria ser a D: “preconceito”. Mas o Inep apontou a alternativa C “linguagem” como correta. E, posteriormente, corrigiu o gabarito.

Além das questões que geraram um debate sobre racismo nas redes sociais entre os estudantes, outras questões erradas e inconsistentes também estão sendo identificadas pelos internautas em outras áreas do conhecimento.

A respeito desses erros, o Inep divulgou, nesta quinta-feira (28), no Twitter, que “após revisão feita pelo Inep nos gabaritos da versão impressa do Enem 2020, as versões corrigidas foram publicadas no portal da autarquia.”