O Sistema Faeal/Senar Alagoas e a Embrapa Alimentos e Territórios deram início, nesta semana, a uma etapa de estudos de viabilidade técnica para verificar se Alagoas tem condições de montar, de forma organizada, uma cadeia produtiva do café.
A informação foi confirmada após reunião, em Maceió, entre a superintendente-adjunta do Senar-AL, Luana Torres, e a analista de Inovação da Embrapa, Renata Silva. A fase atual é de diagnóstico e mapeamento de áreas, mas já há uma indicação: as regiões serranas da Zona da Mata, incluindo União dos Palmares, estão entre as mais promissoras.
Segundo o Senar, o movimento segue a mesma lógica de outras cadeias que foram recentemente incorporadas ao portfólio do sistema, como eucalipto, equideocultura e maricultura.
“O café já está sendo cultivado em outros estados do Nordeste e, em Alagoas, nós temos áreas de serra com clima favorável para esse tipo de produção”, afirmou Luana Torres. Ela destacou que a proposta não é lançar um programa sem base técnica, mas primeiro medir o potencial, ouvir produtores e montar uma rede de assistência.
O que está sendo estudado
De acordo com a Embrapa, a linha de trabalho será testar, em ambiente alagoano, cultivares que já dão certo em estados vizinhos, como arábica (que costuma se adaptar melhor a altitudes e temperaturas mais amenas) e conilon (mais resistente ao calor e indicado para áreas mais baixas, como o Litoral Sul).
“A intenção é promover uma missão técnica para conhecer essas experiências e trazer para cá um modelo de produção já validado, com apoio de pesquisadores e técnicos de campo”, explicou Renata Silva durante o encontro.
A partir desses testes, serão montadas Unidades de Referência Técnica (URTs) em municípios estratégicos. Nessa relação entram União dos Palmares, Viçosa, Mar Vermelho e Quebrangulo, que têm histórico agrícola e altitudes mais favoráveis. Em outro eixo, será avaliada a adaptação do conilon no Sul do estado, em faixa próxima a Penedo e Coruripe, onde já há iniciativas em parceria com Pindorama.
Por que União dos Palmares entrou no mapa
União dos Palmares aparece entre as prioridades porque reúne três fatores:
- Zona de transição serrana, com microclima mais ameno que o litoral;
- Proximidade de outros municípios da Mata que poderiam compor um polo;
- Histórico de iniciativas de valor agregado na região, o que facilita a criação de uma marca de origem.
Hoje, um dos exemplos citados pelo Senar é o Damásio Café, torrefação artesanal de Mar Vermelho, que já trabalha com grãos comprados de outros estados, mas consegue beneficiar, padronizar e vender com identidade alagoana. Para o setor, se a produção de café passar a ser feita dentro de Alagoas — sobretudo em áreas como União dos Palmares — será possível encurtar a cadeia, reduzir custo de transporte e estimular torrefações locais a adotarem café genuinamente alagoano.
Próximos passos
O plano traçado por Senar e Embrapa prevê:
- visitas técnicas a produtores do Nordeste que já cultivam café;
- capacitação de técnicos do Senar para assistência de campo;
- definição das áreas de teste (serra e litoral);
- busca de parceiros como Sebrae, governo do estado e universidades para apoiar crédito, irrigação, manejo e pós-colheita.
A superintendente-adjunta do Senar afirmou que só uma avaliação técnica mais ampla vai dizer se o café será uma cultura complementar ou se pode se tornar um novo vetor econômico para a Mata e para municípios como União dos Palmares.
“As cadeias produtivas surgem da demanda local, mas também da viabilidade do negócio. Nosso papel é aproximar os municípios dos nossos serviços e abrir caminho para quem quer começar”, disse Luana.
Se os resultados forem positivos, a futura cadeia do café deve seguir o modelo que Alagoas vem aplicando em outras atividades: formação profissional rural, assistência técnica e organização de mercado, para que o produtor não fique isolado.
Na prática, isso significa que pequenos e médios produtores de União dos Palmares poderão ter roteiro técnico de plantio, padrão de qualidade e canais de escoamento.