A artesã de cerâmica e Patrimônio Vivo de Alagoas, Dona Irinéia, de 73 anos, com diagnóstico da Covid-19, recebeu alta nessa quarta-feira (04/10). Ela estava internado desde 22 de outubro em tratamento contra a doença, no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA), em Maceió.
Natural do Muquém, povoado localizado na zona rural de União dos Palmares, na Zona da Mata de Alagoas, a artesã por pouco não perdeu a vida. Ela contou que os primeiros sintomas da doença que sentiu foram cansaço e tosse, quando decidiu fazer o teste junto com o marido.
“Eu tomava um xarope, lambedor, mas nada de resolver. Aí, eu e meu marido fomos procurar fazer o teste em União dos Palmares e, como nosso estado de saúde inspirava cuidados, fomos transferidos para o Hospital Metropolitano”, relatou a Mestre do Patrimônio Vivo do estado.
A paciente, que se internou junto com o seu marido, Antonio Nunes, o Toinho, passou quase duas semanas hospitalizada e, após receber tratamento humanizado da equipe multidisciplinar do HM, além de passar por exames de imagem e laboratoriais, conseguiu se recuperar da Covid-19.
Ao receber alta médica, a mestre Dona Irinéia não escondia a felicidade de poder retornar para a sua residência e agradeceu todo o carinho da equipe do Hospital Metropolitano de Alagoas. “Estou feliz porque me recolhendo para minha casa, mas, agradeço a todos de coração pelo cuidado”, salientou.
Ela também não escondeu a ansiedade de retomar a confecção de suas peças de barro, que a tornaram famosa além dos limites de Alagoas. “Quero tocar meu barco pra frente, nunca fui à escola e a leitura que Jesus me deu foi a minha arte, que me fez ser reconhecida até fora do Brasil”, comemorou.
Mestre Irinéia
Mestra artesã do Patrimônio Vivo de Alagoas, desde 2005, Dona Irinéia é considerada uma das maiores ceramistas do Estado. Faz parte de um grupo de remanescentes quilombolas. Começou fazendo cabeças de barro para ajudar na renda familiar. Tornou-se conhecida ao participar de feiras de artesanato pelo Brasil afora.
Aos vinte anos, Irinéia começou a ajudar sua mãe a moldar panelas de barro para colaborar no sustento da família. Mais tarde, iniciou a produção de peças para fiéis pagarem promessas, em Juazeiro, no Ceará. “Depois que eu descobri minha arte acabou meu sofrimento”, disse.
Ao lado de seu marido, Antonio Nunes, o Toinho, ela encontrou novas possibilidades para o trabalho com o barro. Os vasos e panelas passaram a ser substituídos pelas famosas esculturas, hoje conhecidas em todo país e até internacionalmente.
Em 2004, Irinéia foi finalista do Prêmio Unesco de Artesanato da América Latina e Caribe. Em 2015 esculturas da artesã foram levadas para Itália, a convite da Expo Milão, feira que reúne obras de arte de 140 países. Em 2013, ela virou personagem do livro A menina de barro, da escritora Gianinna Bernardes, com ilustrações do alagoano Pablo Perez Sanches.
Hoje seus trabalhos constam de catálogos da cultura popular elaborados pelo Ministério da Cultura (MinC), e é considerada como uma das melhores artesãs do barro, em Alagoas. Faz parte do Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas – RPV/AL.