Eleições 2020: 130 cidades resgistram mais eleitores do que habitantes

Essa diferença entre a população estimada pelo IBGE e a quantidade de votos registrados pelo TSE causa muita discussão, mas tem explicações simples

Eleições municipais 2020 (Reprodução)

No ano atípico de 2020, outra particularidade aconteceu nas eleiçoes municipais desse ano. De cordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 130 cidades tiveram mais pessoas votando do que habitantes estimados.

No entanto, esse contrataste parece indicar apenas um cálculo errado, mas essa discrepância nos números tem causado um grande impacto.

Alguns municípios tentam usar essa diferença entre os dois dados para tentar obter na Justiça a revisão da população estimada pelo IBGE, com o propósito de obter mais recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Apesar dessa estranha incompatibilidade, o fato tem uma série de explicações que passam desde as diferenças entre as duas bases de dados até limitações metodológicas.

O Censo, é responsável por calcular a população das 5.570 cidades brasileiras. Porém, a pesquisa considerada a mais precisa do Brasil, é realizada de dez em dez anos.

Com isso, entre uma década e outra, calcula-se como a população de cada município variou e, sem seguida, projeta-se como mudou a demografia nas unidades da Federação.

“Essa projeção é feita duas vezes a cada dez anos. Para chegar ao número, considera-se dados do último Censo nos quesitos nascimento, morte, migração. Os pesquisadores realizam o cálculo pela primeira vez dois anos após o Censo e novamente depois de cinco anos”, explicou a demógrafa do IBGE Izabel Marri.

A partir disso, O IBGE leva em consideração a tendência demográfica dos dois últimos censos para estimar quantas pessoas vivem em cada estado.

“A projeção não é feita para cada município porque não há dado com qualidade suficiente — eles são muito incompletos. Quanto menor a área geográfica, mais sensível são as informações coletadas. A projeção para as 27 UFs é um trabalho incrível, descer isso para cada município não seria nada trivial”, apontou Marri.

O último censo foi realizado em 2010, e por isso, conforme se afastamos da data, a prodabilidade suscetível ao erro é bem maior. Isso porque algum evento econômico ou desastre pode acontecer em uma cidade, mudando a dinâmica anterior de evolução da população.

“A construção de uma usina hidrelétrica, por exemplo, muda a dinâmica de municípios muito pequenos. O fechamento de refinaria de petróleo também pode causar a evasão da população de um município porque não há mais emprego”, explicou Marri.

De acordo com o instituto, a cidade que apresentou a maior diferença entre o número eleitores e habitantes foi Nazária (PI), com 8,6 mil habitantes estimados pelo IBGE.

Outro grave problema que pode ter contribuído com essa diferença, é que muitas pessoas que votam em um município não necessariamente moram nele. Os brasileiros não são obrigados a informar a Justiça Eleitoral mudanças de cidade. Assim, é possível ter um título de eleitor cadastrado em uma cidade e morar em outra.

Urnas eletrônicas (Reprodução)