Conhecido como o Mochileiro pela Educação, o alagoano Tiago Silva, de 32 anos, viaja pelo Brasil com uma mochila grande o suficiente para carregar mais de 100 livros, os quais ele distribui para escolas públicas, ONGs, aldeias indígenas, quilombos e grupos de jovens que encontra no percurso de suas viagens.
Os livros distribuídos por Tiago são obtidos tanto por meio de doações quanto comprados por ele em sebos. O mochileiro já visitou 65 cidades, a maioria na região Nordeste, e distribuiu 8 mil livros. Outros 5 mil estão garantidos para quando a pandemia permitir a volta das suas viagens. Ao Ecoa Uol, ele disse que todo dia recebe livros em sua caixa postal. “Todo dia chegam doações pela minha caixa postal. Até separamos um quarto só para guardar e catalogar os livros na minha casa”, comemora.
Cordelista, formado em Gestão de RH e especializado em psicopedagogia, Silva encontrou na educação e na literatura uma forma de transcender e ir contra todas as probabilidades de sua realidade. O jovem nasceu em Junqueiro, cidade a 118k km de Maceió. Em sua infância, ele era rodeado por plantações de cana-de-açúcar e o destino de trabalhar na lavoura era dado como certo, caso não tivesse sorte.
“A ideia que se tinha na época era a de que jovens pobres e negros e, no meu caso, sem pai, iriam acabar no corte da cana-de-açúcar. Mesmo sendo um trabalho digno, queria explorar outras possibilidades”, conta.
Tiago vivia com a mãe, que na época trabalhava como gari, a avó e três irmãos. Ele nunca conheceu o pai, o que o marcou profundamente, mas a educação e a literatura surgiram e transformaram sua vida. “Percebi que existia um mundo lá fora e eu queria explorá-lo. Então decidi que iria estudar para transformar minha vida e a da minha família.”
Com o desejo de agir e ajudar outros jovens com a sua formação, o Tiago, que antes usava bolsas de supermercado para carregar seu material escolar quando criança, hoje consegue realizar o seu sonho, levando e apresentando o universo literário para outros jovens, para que eles sejam protagonistas de sua própria história.
Sua jornada enquanto mochileiro nasceu do seu primeiro projeto, o “Conversando sobre carreira”, um evento que levava profissionais de diversas áreas para falar sobre carreira a estudantes de escolas públicas do interior de Alagoas. No entanto, na medida em que as ações foram se expandindo e alcançando outras cidades, ficou difícil conseguir palestrantes dispostos a viajarem para mais longe. “Foi aí que resolvi acrescentar o elemento literário para trazer histórias que pudessem inspirar os jovens, e passei a distribuir livros ao final da palestra”, conta.
Tiago acrescenta que o governo de algumas cidades que ele visita paga sua viagem, mas nem todos conseguem. “Eu visito aldeias indígenas, quilombos e outras cidades que não têm como fazer isso”, explica.
Hoje, com a pandemia, o alagoano tem se reinventado, promovendo palestras online e lives com jovens e começou a doar livros pelo correio – tanto para bibliotecas quanto para jovens seguidores de suas redes sociais.
